Rindo da morte

A fortuna sorriu para mim, e ela tinha esse rosto.   Começo da tradução do artigo de Jean Elizabeth Seah https://ignitumtoday.com/...

Amaterasu e Susanoo (Simbolismo em Hanako-Kun pt.2)

 Eu gosto muito de espelhos. Ver meu rosto bonito toda manhã é um privilégio que eu passei a ter depois que resolvi pendurar um espelho no meu closet. Com exceção dos portadores de Espectrofobia, todo mundo gosta de espelhos. E os japoneses tem uma história muito bonita sobre eles.

Quando a Pangéia de Izanagi e Izanami se separaram como continentais extensões de terra, dois irmãos surgiram dessa separação das terras: Amaterasu, a deusa do sol, e Susanoo, o deus das tempestades.

Amaterasu era compassiva com nós humanos, e toda manhã lançava seus raios sobre nossas plantações, para que não passássemos fome. Ela que com sua luz dava cores ao mundo e viço aos campos. 

Susanoo era um playboy revoltado com o mundo (possivelmente por ter sido abandonado pelo pai e um pouco negligenciado pela mãe) e se comprazia em causar o caos e trazer destruição para os humanos. 

Um certo dia, Susanoo montou na sua carruagem e destruiu tudo quanto viu pela frente, deixando milhares de vilarejos em lágrimas pelos mortos e pelas plantações devastadas. Amaterasu vendo isso ficou profundamente triste. A pessoa mais próxima a ela que existia no universo, seu irmão, era um babaca e ela aos poucos perdia a esperança nos outros. Como deusa do sol, ela também via tudo quanto se passava de maldade na terra e essa foi a última gota d'água. 

Amaterasu resolveu se trancar em uma caverna e nunca mais sair. Susanoo não podia ligar menos. Continuou fazendo haves e batendo sua carruagem por aí. Mas nós humanos precisávamos dela. Sem luz, é impossível imaginar qualquer vida na terra. Então um dia a enganaram com música e trazendo uma belíssima dançarina que começou a fazer striptease do lado de fora da caverna. Todos riam e se divertiam. Isso atraiu a atenção de Amaterasu, que resolveu passar a cabeça numa fresta pra dar uma espiadinha, e, quando o fez, os homens levantaram um espelho onde ela viu seu próprio reflexo. Tendo visto seu próprio reflexo, ela se admirou muitíssimo e resolveu sair da caverna e desde então nunca mais se isolou e o sol nunca mais deixou de se levantar todas as manhãs.

"Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus." 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5/13-16

O mundo é uma merda. Você também é, mas nem tanto assim. E se não existe nenhuma luz no mundo, você é essa luz. E algo de divino sai do que você faz, fala e cria. Você é o sal da terra e a luz do mundo.

Amaterasu - Wikipedia






O terceiro Mistério, o Inferno dos Espelhos, tem a habilidade de refletir os corações daqueles que se contemplarem nos seus espelhos. Aqueles que tiverem coração puro, escapam sem problemas, se não, o espelho muda sua aparência para refletir os medos mais profundos da pessoa, obrigando a vítima a permanecer lá para sempre. Esse mistério quer trocar de lugar com os vivos, permitindo que as mãos de manequim que foram bem sucedidas em capturar humanos ficarem com suas almas.

Não poderia haver um regente melhor para esse Mistério que o atual Mitsuba. Mitsuba é justamente o que o espelho pode representar de pior. Além de ter uma memória apagada, que faz com que o reflexo mostrado no espelho seja só um fundo branco, ele é orgulhoso sobre sua "aparência" e "fofura". Ver seu próprio reflexo com certeza lhe seria o maior prazer do mundo e enxergar os defeitos dos outros sendo refletidos no espelho intensificaria mais isso ainda. Ele sofre também de solidão. E solidão é um caminho trilhado para a soberba. Não tem coisa mais danosa pra sua fé na humanidade que contemplar e admirar sua podridão e a dos outros nos espelhos.

Para mim, por isso o terceiro mistério é o um inferno. Amaterasu ama a si mesma e depois vai ao encontro de amar os outros. A bondade que ela enxerga em si mesma, garante que essa mesma bondade existe nos outros.


















OS DOIS TIPOS DE INTELIGÊNCIA

 Existem dois tipos de inteligência: a inteligência aplicada e a inteligência geral.

Pode-se pensar nessas duas com uma metáfora. Imaginem um carro Mercedes. A inteligência aplicada é a responsável por produzir a parte mecânica do carro. A inteligência geral é o vigor criativo que nós temos. É a geral que dá ao carro suas belas curvas, que vai pintá-lo de rosa, colocar um neon em baixo, botar luzes piscantes nas rodas, e tudo que nós gostamos nos nossos carros.

 A geral é a inteligência voltada para a criatividade, a sabedoria, a arte, apreensão do transcendente, inteligência emocional, busca pelas virtudes, compaixão, poesia, etc. Porém não adianta um pintor com muita imaginação e sem nenhuma técnica.            Por isso a inteligência aplicada também é importante. No entanto, a aplicada vem recebendo doses injustas de atenção na nossa modernidade, coisa que jamais se observaria em povos antigos (ou até há pouco tempo atrás.


 

Na antiguidade existia uma divisão sobre os dois tipos de generais que você encontraria no campo de batalha: o general instintivo e o general estrategista. O general instintivo é aquele que costumava acompanhar os seus homens no meio da peleja. Geralmente eram fortes e exímios combatentes. Esse general se aproveita do páthos dos soldados. Ele com sua força e coragem impele seus soldados para frente, ductus exemplo, liderar pelo exemplo, diziam os romanos. Houve um caso, no primeiro enfrentamento entre os romanos e os gregos em que o rei e general Pirro (que cunhou o termo ‘vitória Pírrica’ justamente por causa dessa batalha) teve que se retirar no meio da batalha porque as coisas estavam esquentando demais (não esperava um exército tão bem preparado do lado dos romanos). Para não abalar a moral dos soldados – ele não queria parecer que estava batendo em retirada -, ele foi até seu melhor amigo e conselheiro Mégacles e lhe entregou a armadura, de modo que Mégacles se vestisse de rei e voltasse para a batalha em nome de Pirro. Acontece que um soldado romano desconhecido lhe enfiou a espada no peito e matou o conselheiro. Depois, vendo que se tratava do rei dos gregos (ou assim pensaram), ele empalou o sujeito e começou a balança-lo na estaca, exibindo a todos que o rei grego estava morto. Os gregos ficaram extremamente desmoralizados por causa disso, generais e outros nobres amigos de Pirro avançaram loucamente e morreram nas mãos dos romanos. Até que finalmente o rei verdadeiro retornou ao campo de batalha e acalmou os ânimos dos seus soldados. Mas até que isso fosse, já tinham morrido muitos dos seus nobres.

 Apesar da vitória grega nessa batalha (eles tinham elefantes e os romanos nunca tinham visto essas bestas demoníacas), as perdas do exército grego foram tremendas. “Se saio vencedor em mais uma batalha contra os romanos, estou completamente arruinado”.

Pirro era um caso de um Rei e general estrategista, mas que também sabia combater (ou nem tanto), um traço comum na cultura bélica grega. Porém antes dele, no século IV antes de Cristo temos um exemplo formidável de um Rei general que combinava as duas qualidades. Era Alexandre, o Grande. Alexandre fora tutelado por ninguém menos que Aristóteles. Treinou luta grega, decorou as epopeias de Homero, aprendeu a filosofar, aprendeu sobre política, teve toda educação que um nobre teria direito de receber. E no campo da batalha tinha, como diziam, a força de um leão e a coragem de uma mãe ursa, lutando como se não tivesse nada a perder, apostando tudo. Suas cargas eram decisivas na batalha. Os homens acreditavam estar cavalgando ao lado de um próprio deus ou semideus alado quando Alexandre avançava. Devia ser algo de outro mundo, realmente. Não é à toa que ele teve dos exércitos mais fiéis que eu já vi. Homens que marcharam literalmente até a Índia com ele.

Agora, vou dar um exemplo do que é o oposto disso.

Qualquer um que estuda primeira e segunda guerra mundial sabe da falta de habilidade dos generais franceses em bolar estratégias. Seus planos mirabolantes (terminar toda a guerra em 6 meses[1]) e pouco práticos levaram a casualidades enormes para o lado dos franceses. Esse é um exemplo de quando a inteligência geral foi substituída pela pura inteligência aplicada. O ambiente militar francês, dominado pelo pensamento positivista, tinha suas estratégias baseadas em raciocínios lógico-matemáticos. Se eu fizer isso, logicamente acontecerá aquilo. Qualquer general sabe que não funciona assim. Por isso que Júlio César e Alexandre, o Grande foram tão bem sucedidos. Não faziam tantos planos antes, só o básico. O resto faziam de acordo com o correr da batalha.

Outra coisa, homens não se motivam com pensamentos puramente racionais. E muito menos, por essas estratégias serem tão racionais e calculadas, quer dizer que fiquem mais fáceis de ser seguidas. O exército romano não começou construindo pontes. A primeira lição foi aceitar a derrota, se preparar para ela, e depois a disciplina para alcançar a vitória. Começaram aprendendo a fazer muros, depois cisternas e depois aprenderam a fazer pontes.

Em outra área, observa-se a mesma contaminação desse tipo de raciocínio, impelido por uma inteligência desenvolvida de um modo abnormal para o lado aplicado. Eu vi num documentário sobre a vida de Trajano uma citação de um historiador romano (agora não me recordo o nome) sobre Júlio César. Ele disse assim que a história que ele registrava não era 100% correspondente à fatos. Mas que a intenção era passar a impressão do caráter de Júlio César. Eu entendi na hora, pois é algo que sempre penso. Se fosse contar exatamente o que aconteceu, não poderíamos apreciar o tamanho das virtudes de Júlio César. Pareceria uma batalha comum, talvez. Agora, se exageramos, chegamos mais perto do que ele realmente passou naquele momento, do estresse, do desespero, e da força que foi necessária para sair daquelas enrascadas.

Bem, por um lado os historiadores antigos não eram tão preocupados com os fatos; mas hoje os modernos são obcecados com os fatos, alguns a ponto de que não acreditariam na existência de Júlio César se não houver um descobrimento arqueológico que prove isso. Me lembro de uma vez conversando com esse professor de história que eu tive no ensino médio, o qual fazia parte da ordem franciscana dos leigos e era ferrenho defensor da teologia da libertação e da união da América latina. No dia de Santa Rosa de Lima, padroeira da América latina, acabei conversando com ele sobre ela. E ele me disse que ela era anoréxica. Eu discordei disso e ele continuou: “São Francisco era esquizofrênico, São Domingos de Gusmão botou cannabis sativa na boca quando estava na floresta, São Paulo bateu a cabeça quando caiu do cavalo, etc...”

Esse é um exemplo bom dessa mesma mentalidade nas ciências. A pretensão de explicar qualquer coisa que não se entenda. Não é concebível para os orelhudos que S. Rosa de Lima faça jejuns porque ela ama a Deus.  Ou que São Francisco queira realmente ajudar os pobres, e não fazer uma revolução do proletariado. Afinal, como eles poderiam amar alguém que não veem?

 

 

 

 

 

 



[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Nivelle

Apenas um Show - O jovem Blue Jay que não era corajoso o suficiente para ser medroso

 

Apenas um Show - O jovem Blue Jay que não era corajoso o suficiente para ser medroso



Eu lembro de ter lido essa história quando estava começando a estudar inglês. Dei uma pesquisada aqui e vi que o nome original é "The Young Blue Jay Who Was Not Brave Enough to Be Afraid", publicada por Clara D. Pierson na sua coleção "Among the Forest People (1898)"

O Bluejay não é um pássaro nativo do Brasil, sendo original da América do Norte, comum no leste e na parte central. São pássaros muito cantantes (tem um monte deles no Red Dead Redemption 2, já até conheço seu canto rsrs) e bem conhecidos por sua inteligência. São pássaros que voam sempre em grupos ou em pares, sendo também conhecidos pelo carinho que têm um pelo outro.

 

Mas aqui vai a história.

Bem, todo mundo que já observou um Blue Jay sabe como eles são corajosos. São o terror da floresta. Eles inspiram as histórias de terror que as mãe pardais contam pros filhinhos pardais, sobre o pássaro-mal monstruoso que vai devorá-lo caso ele se demore muito pelo bosque. O Blue Jay come filhotes de outros pássaros, destrói seus ninhos, arruma briga com gente com o dobro do tamanho, são extremamente territorialistas.

Eles falam bastante, sempre dizendo um ao outro o que fazer. Mas nenhum faz o que lhe foi dito para fazer, então acho que deveriam parar de dar conselho. Vivem na parte mais densa da floresta, onde criam suas famílias de bebês pequenitos e fofuchos, nos seus ninhos feitos com os gravetos mais grossos que podem encontrar. Eles falam muito pouco no verão, e o povo da floresta não sabe quando eles estarão vindo, a não ser que vejam uma frota de asas azuius entre os galhos. Os Blue Jays não devem ficar parados. Eles estão tramando artimanhas e não querem ser pegos.

Os bebês minúsculos crescem rápido e suas bocas estão sempre abertas para mais comida. Pai e Mãe Blue Jay passam todo seu tempo fazendo compras, e eles não se contentam com sementes e amoras. Eles visitam os ninhos dos vizinhos, e então algo muito triste acontece. Quando o Blue Jay vai a um ninho pode haver 4 ovos nele; mas quando eles vão embora, não tem mais nenhum, só pedaços quebrados de casca de ovo. É muito, muito triste, mas essa é outra das coisas que sempre serão assim, e os outros pássaros só podem ficar olhando enquanto os Jays vão embora.

Havia uma vez um jovem Blue Jay na floresta que era maior que seus irmãos e irmãs, e sem querer os empurrava para fora do ninho. Quando o pai chegava com um pouco de comida, ele se esticava e dava sempre a primeira mordida, porque era o maior e mais forte. Às vezes a primeira mordida era tão grande que não restava nada para os outros. Ele era um sujeito muito ávido.

O mesmo Blue Jay costumava se gabar do que iria fazer quando saísse do ninho, e sua mãe lhe contava que ele iria se meter em problemas caso não fosse cuidadoso. Ela dizia que até mesmo os Blue Jay tinham que tomar cuidado.

"Huh!" dizia o jovem Blue Jay; "Quem tem medo?"

"Agora você banca o valentão," dizia a Mãe, "as pessoas que são realmente corajosas são sempre dispostas a serem cuidadosas."

Mas o jovem Blue Jay só empurrava mais seus irmãos e irmãs para a beirada do ninho, e pensava, na sua pequena cabeça peluda, que quando tivesse a chance ele mostraria a eles o que era coragem.

Depois de um tempo essa chance chegou. Todos os pássaros pequenos haviam aprendido a pular de galho em galho e a saltitar bem rápido andando no chão. Uma tarde eles foram para a parte da floresta em que o chão era úmido e tudo era esquisito. O pai e a mãe advertiram suas crianças ficarem sempre próximas a eles, que assim estariam protegidos; mas o tolo jovem Blue Jay queria uma chance de ir sozinho; então ele se escondeu atrás de uma árvore até que os outros sumissem da visão, e a partir dali emendou em outro caminho. Foi bem divertido por um tempo, e quando os outros pássaros o olhavam ele estufava o peito acreditando que isso iria assustá-los.

O jovem Blue Jay tinha acabado de pensar nisso quando ele viu algo longo e brilhante deitado no caminho à frente. Ele se lembrou do que seu pai havia dito sobre cobras, e sobre esse tipo que tinha chocalhos em sua cauda. Ele se perguntou se essa tinha um chocalho, e se decidiu a ir ver. "Sou um Blue Jay," disse a si mesmo, "e nunca tive medo de nada."

A cobra-chocalho, que tinha mesmo um chocalho, levantou sua cabeça pra olhar o pássaro. O jovem Blue Jay viu que seus olhos estavam bem brilhosos. Ele olhou bem dentro deles, e pôde ver pequenas imagens de si mesmo no seu brilho. Ele ficou parado para olhar, e a cobra se achegou. Daí o Blue Jay tentou ver sua cauda, mas não conseguia tirar os olhos dos olhos da cobra, mesmo que estivesse tentando muito.

A cobra-chocalho agora envolvia seu corpo, achatava sua cabeça peluda, e mostrava seus dentes, o tempo todo sua língua bifurcada entrando e saindo da boca. O Blue Jay tentou sair, e percebeu que não conseguia. Tudo que podia fazer era ficar ali e encarar aqueles olhos brilhantes, e escutar a canção que a cobra-chocalho começara a cantar:

"Através da grama e samambaias,

Com muitas voltas,

Meu corpo brilhante eu desenho.

Na sombra da floresta

Minha casa está feita,

Pois esta é a Lei Florestal.

 

"Quem tenta

Para olhar nos meus olhos

Aproxima-se da minha mandíbula envenenada;

E pássaros bravos

Eu encanto e seguro,

Pois esta é a Lei Florestal. "

 

A cobra-chocalho chegava cada vez mais perto, e o jovem Blue Jay estava tremendo de medo, quando de repente chega um avoaçar de asas e sua mãe e seu pai chegam descendo e gritando em volta da cobra-chocalho, chamando todos os outros Jays, e fazendo a cobra desistir do pequeno pássaro que estava para comer.

Depois que o medo passou, o jovem Blue Jay começou a reclamar que não tinha visto o chocalho da cobra. Então sua mãe lhe deu uma surra e seu pai disse que ele merecia umas bicadas violentas pela sua tolice.

O jovem Blue Jay se arrependeu da confusão que havia causado. E sua mãe lhe disse "Um pássaro realmente bravo ousa ter medo de algumas coisas" e, "se você chegar perto o bastante para ver a cauda do perigo, você pode ser atingido pela sua cabeça"

 

E essa foi a história.

Pra quem não conhece o desenho, "Apenas um Show" é sobre a vida de dois amigos que trabalham num parque ambiental no centro da cidade. Mordecai é um Blue Jay e seu melhor amigo Rigby é um guaxinim.

Bem, Mordecai adora socar Rigby na cara, ter sempre a manete 1 no vídeo-game e dorme na melhor cama. Ele é mais esperto que Rigby, e muito mais maduro também. Isso no início já foi quase causa para se separarem, pois tem horas que Mordecai não aguenta a convivência com o guaxinim egoísta e imaturo que é o Rigby. Só que para mim os dois são como Goku e Kulillin. Um melhora o outro. Goku é puro de coração, mas é inocente de mais, não tem sagacidade. E Kulillin é invejoso, quer treinar para arrumar namoradas. Tem uma situação que o Mestre Kame arremesa uma pedra no meio da floresta e fala para acharem essa pedra. Quem achar antes de anoitecer pode jantar. Se nenhum dos dois acharem, os dois ficam sem janta. Goku consegue encontrar a pedra graças à seu faro canino. Kulillin fica na espreita e rouba a pedra de Goku para entregar ao Mestre Kame. Foi a primeira vez que Goku realmente se ferrou por causa da malícia de alguém.

E, sabe, Rigby para mim é um personagem extremamente tóxico. Não é só infantil e ingrato, mas ele é mesquinho, sempre pronto para sacrificar qualquer um e qualquer coisa pelo seu bem-estar. Além de não olhar para o bem dos outros, só para o seu próprio bem. Mas são amigos. E uma coisa que me surpreende é como o Mordecai lida com isso. Isso não é só porque é um desenho, e esse tipo de coisa pode ser simplesmente ignorado e o Mordecai possa ter paciência infinita com o Rigby. Mas eu conheço isso na vida real, bem de perto e já vi pessoas que convivem com outras muito inferiores a elas (vamos dizer assim, rasgando o verbo mesmo) e acabam sendo amigas de longa data. Isso acontece muitas vezes por falta de opção. Porém há também um efeito purificador nesse tipo de amizade. Pra ambos os lados. Mordecai é obrigado a perder sua soberba de querer estar sempre perto dos mais picas de todos, de querer dominar tudo, ter a companhia dos melhores e mais bonitos. Ele tem que ficar com o Rigby. E ele não abandona nunca seu amigo. Ele tem que aprender a ser calmo e paciente (coisa que é exatamente o oposto do que os Blue Jay comedores de ovos são na natureza). E Goku tem que aprender a maldade. Kulillin, a bondade e a pureza de coração. E o Rigby... Bem, o Rigby nunca aprende nada.