Rindo da morte

A fortuna sorriu para mim, e ela tinha esse rosto.   Começo da tradução do artigo de Jean Elizabeth Seah https://ignitumtoday.com/...

Mozart e a Flor de Íris

Minha pétala desce em gratidão

Serena eu oro e vou deitar sobre a relva

Pra te contar o que tem de mais íntimo,

Nessa sinfonia feita por uma criança,


        Mozart me tinha no seu jardim,

                   Eu o olhava séria

E ele retribuía tocando;

Braços relaxados e ombros caídos


Me dizia que queria ser como eu

Vestir púrpura e fofocar de dia

Mostrar aos outros o seu melhor,

Fazer sua nobreza compreensível,


Eu lhe dizia: "não sei do que você está falando"

  Eu que só sabia ser a mesma

     Sempre constante

                  Íris do campo









Poema para a Flor de Mandacaru

Um dia para sorrir,
     Rachar o rosto de alegria,
Levantar a face no sol quente
           Bailar o momento.

Sob o encanto das estrelas,
apanhá-lo no friozinho da névoa,
 Se maravilhar das centelhas brilhantes
             dessa noite dourada,

Beber da chuva e se lembrar
que linda e preciosa como é,
para sempre foi amada.















Quem ia querer ser Rei?


O filme do Studio Ghibli "Princesa Kaguya" conta a história de uma menina encontrada em um tronco de bambu. O camponês, que não havia podido ter filhos com a esposa, que a encontra resolve criar como filha aquela menininha que brilhava esplendidamente dentro do bambu. Não era uma menina qualquer. Crescia muito mais rápido que qualquer outra criança, em estatura e em inteligência. Literalmente no segundo dia de vida ela já estava conseguindo engatinhar e nesse mesmo dia aprendeu a andar.

Logo alcançou a idade das crianças vizinhas e já estava brincando com elas. Assim Kaguya passava seus dias, correndo pelas florestas, se banhando nas cachoeiras, brincando e cantando. Um garoto mais velho era particularmente mais amigo seu, o rapaz Sutemaru. O pai, em uma das suas idas e vindas da floresta de bambu, encontrou por lá um bambu que brilhava. Cortando o bambu, pérolas, jóias e pedras preciosas jorraram do corte. Ele tomou aquilo, assim como a primeira vez que encontrou Kaguya na floresta, como uma benção divina. Não demorou muito para perceber que o lugar de Kaguya não era aquele povoado campesino - ela estava destinada a ser princesa.

Tudo foi arranjado pelo pai e eles viajaram para a cidade grande. Isso aconteceu não sem machucar Kaguya, que sentiu muito em deixar os amigos do bairro para trás. Lá na cidade grande iniciou sua educação para ser uma aristocrata. A princípio ela relutou contra as lições de etiqueta da Senhora Sagami, que fora contratada para ser sua tutora particular. Por alguns momentos, chegando na mansão na cidade grande, ela havia podido desfrutar do lago, do jardim, dos pássaros cantando, do sol em sua face natural. Porém o que a aguardava era o cargo de aristocrata, quiçá de princesa até. Uma princesa não podia ser vista do lado de fora da casa sem estar propriamente vestida e maquiada. Jamais uma princesa poderia ser vista tomando banho em um lago ou cantando ciosamente em um jardim. A vida de princesa era uma vida solitária e dedicada aos afazeres diários cuidadosamente planejados. Não é questão somente de tempo. Um aristocrata tem muito tempo livre para si mesmo! Até mesmo mais do que ele gostaria, talvez! Isso é uma questão de disposição de espírito. Assistir esse filme e observar a trajetória de Kaguya até o final de sua vida aqui na terra, me fez perceber isso.

Sempre que eu assistia filmes do Kurosawa ou animações japonesas e me deparava com essas moças japonesas, filhas de nobres, que eram obrigadas a nunca sair de casa e permanecer sempre dentro de seus domos, fora da vista de todos, eu sempre achei cruel e desumano. No entanto, eu entendi: se alguém quer se elevar acima de si mesmo e dos outros, explorar seu máximo potencial, tem que buscar convívio com pessoas melhores que si.




A turminha do bairro é o pior obstáculo que existe para isso. Kaguya era feliz brincando com eles. A vida era fácil e tranquila. Não passaria disso. Ela se casaria e viveria uma vida amena no campo. Mas não é esse o destino dos grandes espíritos. Seu destino era ser princesa. Viver de sacrifício e renúncia de si mesma. Essa é a parábola do Jovem Rico:
 "Eis que alguém se aproximou de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?” Respondeu-lhe Jesus: “Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom. Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos”. “Quais?”, perguntou ele. Jesus respondeu: “‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’[a] e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’[b]”.Disse-lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?”Jesus respondeu: “Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”. Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. Então Jesus disse aos discípulos: “Digo-lhes a verdade: Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. E lhes digo ainda: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: “Neste caso, quem pode ser salvo?” Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis”. Então Pedro lhe respondeu: “Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós?” Jesus lhes disse: “Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todos os que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe[c], filhos ou campos, por minha causa, receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna. Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros."

E nunca é supresa que esse jovem seja rico e que Jesus, o Rei de todos, seja pobre, nascido em um estábulo, símbolo da maior simplicidade. Assim também é o Bambu para o oriental*. Ser rico nesse sentido não é necessariamente ter dinheiro. Mas ter e ter muito. Ter muitos colegas, muitas alegrias, muitos confortos, muito ócio, muita facilidade, muitos familiares. No campo, era o que Kaguya tinha.

Essa parábola fala de abdicar. Que é um rei ou rainha sem se abdicar? Kaguya passava seus dias agora mais sozinha, afora a companhia da Senhora Sagami, seus pais, seus livros e sua harpa. E a Lua, que a chamava constantemente.

Um fato sobre morar no Brasil é viver o tempo todo com a turminha do seu bairro. As mesmas motivações da elite são as da turminha do bairro. Numa sociedade normal, isso funciona como uma pirâmide, que segue a ordem econômica e política. Na base temos a turminha do bairro, que é a maioria. Daí vai ascendendo: turminha da cidade, turminha da capital, turminha da metrópole, turminha de Roma, turminha de Paris, e termina na turminha da Áustria, a capital intelectual do mundo, onde a turma já está reduzida a uns poucos 5 intelectuais com quem você poderia dialogar. E acima dessas todas tem a turma dos santos. Se você participar dessa e tiver um amigo sequer na vida, acho que seria muitíssimo sortudo. Quanto mais vai ascendendo na pirâmide, menor o número de pessoas com quem consegue comungar. O que impressiona no Brasil é como o diálogo da elite acadêmica, de qualquer programa da grande mídia, de qualquer programa acadêmico da televisão, da rádio, e qualquer novela publicada, esteja no mesmo nível de debate do povo. Isso não é saudável.

Por essa razão, os aristocratas passam os dias caminhando sós nos seus jardins, comungando consigo mesmos. Seus olhos miram para o alto, seu tempo é ocupado com leituras, música, oração e compromissos maçantes. Nobres devem ficar em presenças de nobres. Por isso homens como D.Pedro II passavam tanto tempo com os livros, convivendo com os grandes autores.

E aí eu pergunto: quem gostaria de ser rei, e viver todos os dias olhando para a lua e ansiando por um Reino que não é o seu? Esperando que tudo termine para se ver liberto dessa solidão? Acho que todos que realmente tinham uma alma nobre e foram escolhidos para ser reis ou rainhas sentiram essa vontade de ser servos.





Rosa amarela - Linguagem das flores (Hanako Toba)

 


As flores amarelas explodem de felicidade! É por isso que são associadas à amizade e ao sucesso. Evocam um sentimento de alegria, como aquele de se encontrar com um amigo que não se via já fazia um tempo. Não importa a hora, o lugar, nem se o céu está azul ou escuro, - só a visão do amigo já vai te querer fazer sorrir muito! -.

Não esquecer também que o amarelo é a cor do ouro. Tem uma passagem que eu gosto muito no livro do Eclesiástico: "14. Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro.

15. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé.
16. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo.
17. Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante."
Eclesiástico 6 14-17
Um amigo de verdade é um tesouro, mais raro de encontrar que ouro e mais precioso também.Amarelo também é a cor do sol. Aristóteles dizia que a amizade é uma "iluminação mútua". E isso bem atestam as nossas conversas de 6 horas que colocam até o Sr. Tempo à prova. Não sei se existe amizade verdadeira sem muita muita conversa.E tem uma coisa que São Tomás de Aquino diz é que a verdadeira amizade é querer e odiar as mesmas coisas. O que é isso senão sentir a mesma alegria? Se depois de ouvir você falando sobre as flores amarelas o seu amigo não se sentir alegre contemplando uma, repense sua amizade.













Simbolismo em Hanako-Kun - Pt 1



 Decidi que vou passar a fazer minhas anotações aqui (rascunhos muito singelos) sobre esse mangá que eu ando lendo e gostando mucho! Não vou escrever tuuudo que eu vi, porque daria um trabalhão e eu nem sei como começar.

Falando em começar, vamos lá

Primeiro Espectro - Sereia ou Fada

Ainda não tenho muito a dizer sobre essa, já que eu não conheço muito sobre essas fadas na mitologia japonesa. Cheguei a ler algumas histórias, mas nada de muito concreto tenho a dizer ainda. Eu só acho cômico que por causa de um trato mal feito alguém possa tragicamente virar um peixe e ser obrigado a ser gado dessa sereia horrorosa. Se a sereia na mitologia é um ser que ilude (vi uma história japonesa sobre isso), vamos dizer que afundar nesse oceano insondável pode tornar perigosa uma paixão de adolescente que por sua natureza inconsequente pode levar um comprometimento excessivo da alma com esses sentimentozinhos de união, de busca por carinho, atenção... Nesse sentido, muita gente já vendeu a alma para essa sereia feia e ingrata.

Mas a Yashiro se salva consumando essa união com o fantasminha Hanako. Só que, por causa disso, é obrigada a se tornar sua assistente em limpar os banheiros.

Agora eu só quero colocar umas questões aqui que vem ocupando minha mente sobre o mangá. 

1. Por quê o Hanako é o responsável por supervisionar os mistérios da escola?

2. Por quê ele se veste de uniforme militar?

2. Como e quando que ele teve essa conversa com Deus citada no episódio 3?

4. Por quê ele se tornou um fantasma? Ele busca alguma redenção no trabalho (como ele mesmo indicou nesse mesmo trecho sobre a conversa com Deus)?


Uma coisa que me chama atenção no mangá é a recorrência desse tema que é o esforço tremendo de querer familiarizar todos com as suas piores partes e com as piores partes dos outros também. Mokke. "Você seria amigo de um assassino, Yashiro?" Logo no primeiro Mistério, o dos Mokke, quando são derrotados logo se tornam criaturas dóceis (doce?) e ficam de companheiros para eles na escola. Daí depois vem o Minamoto exorcista que acaba ficando perto do Hanako. E acredito que com os mistérios vá acontecendo o mesmo (conforme eu for lendo, falo mais disso)

Pelo que eu li, a lenda urbana de Hanako-San é sobre uma garotinha (alguns dizem que se suicidou no banheiro) que vive no banheiro da escola e atende desejos das pessoas em troca de um pacto que geralmente envolve a alma dos desejosos. Esse é um outro tema que vou vir a falar mais: o Desejo. Os Mokkes são personificações disso. O desejo de "Quero comer isso" passa a "Tenho que comer isso" e se torna aquele bicho assustador cheio de olhos (Os Mokkes empilhados) que parece que vai te destruir se você não atender. Mas na verdade, você chega perto e são inofensivos, uns bichinhos parecendo mistura de hamster com coelho. E devem ser mantidos assim. Os Mokkes só gostam de doce, igual crianças (terceira camada), e odeiam doce sabor limão (tá lá na parte Bônus do Cap. 3), o que é absolutamente típico do Desejo, que é fugir do que desagrada e procurar sempre a experiência mais doce.

E essa tema do Desejo volta o tempo todo no mangá. Claramente é uma influência do budismo, que considera como um dos nossos principais inimigos justamente a coisa do Desejo.

É interessante como as coisas acontecem também. O mangá é um shounen, o que significa que é destinado para um público adolescente e jovem. E o alvo principal são as meninas. Na vida de Yashiro vão ter muitas paixõecitas, já logo no primeiro capítulo ela faz um trato pra um garoto gostar dela. E se você já passou dessa fase como eu, sabe que esse amor de adolescente dura tanto quanto sanduíche de maionese no sol quente. 

Yashiro não está interessada em Hanako. "Ele não faz meu tipo". Ele parece interessado nela. Eu acho interessante e me faz lembrar de muitas coisas o banheiro. Não tem lugar melhor pra representar a intimidade que um banheiro feminino (não tem nem o urinol pra você compartilhar uma conversa sobre o tempo lá fora).

O mangá dá outro sentido a lenda urbana quando a gente vê o Hanako - em vez de um fantasma maligno querendo colecionar almas -, um fantasma querendo ajudar as pessoas a buscar o que desejam de uma forma salutar, como quando ele ajuda Yashiro a conquistar o seu amor fazendo almoço para ele, mostrando como é boa em jardinagem, boa em conversar, etc. E, é claro, dando a ela um clássico livro sobre como conquistar corações!

Depois disso - para finalizar minhas primeiras impressões no mangá -, falemos de flores!

Não é coincidência o Hanako, o banheiro, o pacto, e a Yashiro de assistente do fantasma. A Flor Camélia (Camélia Japônica) aparece o tempo todo no mangá. Essa flor aparece do lado do Hanako algumas vezes e também em alguns devaneios amorosos da Yashiro (o que eu reparei até então). Na linguagem das flores - Hanako-toba -, a Camélia tem um significado muito forte. A sua simetria complexa e perfeita guarda a pureza de um amor sincero, construído nos degraus ondulantes de cada coro de pétalas que se alinham até chegar ao seu pistilo. Manter em mente que as Camélias são damas da névoa, e nascem quando está nublado e úmido.