Rindo da morte

A fortuna sorriu para mim, e ela tinha esse rosto.   Começo da tradução do artigo de Jean Elizabeth Seah https://ignitumtoday.com/...

Soberba burra: a semente do pensamento revolucionário.

Se têm algo que está constantemente nas minhas buscas, digamos, pretensiosamente filosóficas é entender a mente de sujeitos como a do governador de São Paulo, Dória. Ele e seus afins. E por seus afins eu digo pessoas que seguem essa linha de raciocínio que não sei ainda que nome dar. Essas pessoas são juízes, políticos, opinadores, pessoas que apoiam a ação do Estado. Racionalista, positivista, comunista, socialista, autoritária, totalitária?? Não sei, não importa, mas pra mim isso tudo é bem claro. Vou explicar melhor.

Eu busco incansavelmente entender as motivações por trás das ações das pessoas. E com o Sr. Dória essa motivação é particularmente mais forte, me ocupa muito o pensamento aliás, pois é para mim um mistério grande, quase que como ele e seus afins fossem alienígenas. Quais são suas motivações? Quais as justificativas?? É maldade? É ganância? É dinheiro? É burrice? Ou então tudo isso e mais um pouco?

Uma história do universo da Liga da Justiça me jogou uma luz sobre essa questão.

Hora da História 

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Nessa história, um grupo de "heróis" chega à terra dizendo que precisam de ajuda para resolver uns problemas na sua própria terra, a Terra-3. A Liga da Justiça vai ajudá-los, mas quando entram no portal são na verdade transportados para uma espécie de prisão e de lá não conseguem sair. Os novos "heróis", que na verdade são basicamente opostos dos heróis verdadeiros da Liga da Justiça - Homem coruja = Batman, Ultra-man = Superman, Super-mulher = Mulher-Maravilha, Johnny Quick = Flash - são na verdade um grupo chamada Sindicato do Crime. Na terra, eles dizem para todos que a Liga da Justiça foi resolver um problema numa galáxia distante e que já voltam, sendo eles, que se proclamaram o Sindicato da Justiça, os heróis agora responsáveis por cuidar da terra, na ausência da Liga da Justiça. Eles na verdade estão aqui na terra em busca de um artefato, do qual não vou tratar aqui.

A questão interessante para mim é que eles não sabem ser maus de verdade. Na verdade, suas motivações não tem nada a ver com justiça ou injustiça, ordem ou caos. Simplesmente querem esse artefato. Acontece que eles, tomando o lugar da Liga da Justiça, passam a ser o centro de diretrizes do mundo, os detentores do poder, os protetores do povo. Só um dado interessante: O Batman sempre se opôs à intervenção da Liga da Justiça em assuntos do mundo, principalmente com relação à política. Ele sempre buscou diminuir o poder da Liga, mantê-la na sua única e simples função, de combater super-vilões. O Sindicato da Justiça não se limita a isso. A primeira ação é tomar conta da mídia. O novo repórter, Clark Kentson (Ultra-man) toma isso pra si.

E assim vai indo. O que acontece é que os vilões notam que essa nova Liga da Justiça levaria toda a ordem existente à destruição e que provavelmente no futuro que eles planejavam não haveria espaço ou liberdade nem para a pequena infração de mijar escondido na rua. Essas pessoas do Sindicato da Justiça não eram vilões. O poder ,e a ameaça que vêm com ele, agora eram diferentes, e tornariam até mesmo a vilania impossível, deixando no lugar disso tudo um gigante vazio, num futuro totalitário controlado pelo nosso Ultra-man.

O vazio é pior que levar uma surra. Pior do que sofrer bullying na escola é ser ignorado por todos. Pior do que fazer uma merda e levar umas chineladas por ela, é ter seus pais dizendo que a culpa da merda foi deles e não sua. Só receber elogios vazios e jamais uma crítica. Isso que é realmente problemático: está além da ordem ou do caos, é outro plano, é o limbo. O Sr. Freeze reclama do Sindicato da Justiça: "eles interromperam meu monólogo do mal!"; o Charada: "Eles ignoraram a minha charada!"; O Coringa "Johnny Quick destruiu o banco que eu ia assaltar". Até o Lex Luthor se revolta com eles, ele que tem os mesmos planos de controlar a terra. O Sindicato da Justiça ignora os vilões, não os enfrenta e causam mais destruição, sem querer, que eles causariam com as piores das intenções.

Mas o Sindicato da Justiça vai muito além de simplesmente querer governar o povo como um monarca ou um ditador. Para governar a terra, eles vão castrar a capacidade intelectual dos cidadãos por meio da Netflix; tirar sua força oferecendo sex libre à todos. Num determinado momento, acontecem algumas complicações do Portal de viagem espacial do Sindicato da Justiça e eles transportam UM MOTHERFUCKING PLANETA que fica tapando o sol para a terra. Ultra-man vai à TV, alternando as personalidades entre Clark Kentson e Ultra-man, para dizer "Está tudo bem, ó cidadãos. Estamos avaliando esse pequeno objeto em frente à terra, mas já avaliamos que não apresenta nenhum risco. Sigam com suas vidas normalmente." 

Alguma coincidência?


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Agora, o assunto do qual eu queria realmente tratar. Qual é a motivação para que o Ultra-man seja assim?

Dando uma olhada na história de sua origem, achamos lá as sementinhas. Na sua Terra-3, Ultra-man teve uma origem bem parecida com a do Super-man, só que diferente. Ele também veio de um planeta alienígena e foi criado por uma família do campo. Ultra-man, assim como Super-man, não conseguia se enturmar, porque era muito esquisito. Suas habilidades o distanciavam das pessoas normais. Porém, enquanto Super-man perdeu seus pais e depois conhecera Lois Lane, Ultra-man não perdeus seus pais e jamais conheceu qualquer Lois Lane. Lois Lane ajudou Super-man a entender melhor seus poderes. Ela lhe disse como ele não deveria se sentir superior a ninguém, mas servir de modelo para as pessoas, servindo-as sem esperar nada em troca, para isso ele veio para terra. Do outro lado, os pais de Ultra-man o mimavam. Diziam-lhe que ele era muito especial sim e que as pessoas não o entendiam. Que elas deveriam aprender a ser como ele; para isso, era preciso lhes ensinar obediência. Super-man não obrigava ninguém a seguir seu modelo: se alguém for mudar, é preciso que seja por livre e espontânea vontade. Os pais de Ultra-man pensavam o oposto e assim o ensinaram. O menino cresceu acreditando ser a suprassuma autoridade moral.

 Alguma coincidência? 

E aí está a semente de qualquer pensamento revolucionário, tirano, que favorece a maior ação do Estado em nossas vidas. Na essência, o que diz é: "As pessoas não são capazes de reger suas próprias vidas em comunidade, por isso o Estado deve intervir e garantir a ordem". A educação tem que ser dada pelo Estado, a saúde, a segurança, as vacinas; o casamento deve ser regulado pelo estado, a lei; devemos ter constituições, estatutos, juízes; o estado deve proteger os órfãos, o pobre, o desajustado, o doente... e por aí vai. As pessoas devem ser governadas pela obediência, pois afinal não são capazes de tomar as melhores decisões por si mesmas - esse é o papel de seres superiores, como os presentes no Supremo Tribunal Federal. Esse é o exato oposto do que eu penso. Mas aí eu boto a questão: as pessoas fazem essas coisas por maldade? Digo com certeza que não. Talvez Dória tenha ganância, queira dinheiro e nem ligue para esse tipo de coisa; o mesmo com juízes e desembargadores. Mas a base do pensamento universitário e do próprio povo segue essa lógica. Não é a maldade o verdadeiro perigo. É a burrice que sempre é a verdadeira causadora da destruição no mundo. Com a propaganda certa e falta de testosterona nos homens, as pessoas vão achando que realmente não são capazes de se auto-reger.

Não foi o diabo que destruiu a igreja católica.

Não foi o diabo que inventou a feiura das igrejas atuais e nem dos prédios getulistas.

Foi para modernizar o Brasil que Juscelino Kubitschek destruiu 90% do nosso patrimônio histórico arquitetônico.

Foi pela igualdade que votamos no Lula.

Foram os ideais de liberdade que decapitaram Luís XVI na revolução francesa e criaram nosso congresso.

Foram boas intenções que fundaram a república brasileira.

Foi para a prosperidade de Portugal que os liberais venceram a revolução do Porto.

Foi para instaurar a paz que os EUA bombardearam o oriente médio.

É para não dizer palavras ofensivas que nos ignoram na escola.

É para nos proteger que nossos pais nos mimam.

O SUS foi criado para salvar vidas.

Os radares de trânsito foram criados para salvar vidas e não apressar mais ainda as pessoas que tiveram de perder um tempo inútil parando para sucatas metálicas que medem velocidade.

Médicos que começaram a recomendar que você parasse de comer tanto ovo e em vez da banha de porco usasse óleo de soja, INFELIZMENTE, o fizeram com boas intenções.

Pessoas te contam histórias de como pobres humildes venceram na vida sendo pobres e humildes e vítimas de alguém que não é pobre nem humilde para que você seja um ser humano melhor, mais pobre e mais humilde, e não um pobre humilde que venceu na vida sendo vitimizado por isso.

De boas intenções o inferno está cheio.





O melhor momento de Cícero

"Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?"

Antes de tudo, quero admitir que não sei nada sobre política e sei pouco sobre Roma e Cícero, e o que eu escrevo aqui são só as impressões de um ignorante querendo registrar seus pensamentos. Apesar disso, acho que todos vão concordar comigo quando eu traduzir essa frase e mostrar para vocês que é a mais utilizada na política até hoje. Com isso eu quero mostrar como Roma antiga continua tão presente entre nós.

Essa pintura de Cesare Maccari, que deve ser bem famosa em aulas de latim, retórica e política, sempre mexeu comigo, desde a primeira vez eu a observei com atenção, mesmo que eu não soubesse nada de nenhum dos três. Nessa pintura, temos dois homens em destaque: um no seu melhor momento e o outro no seu pior momento. Esses homens são Cícero e Catilina. Cícero extasiado de orgulho proferia seu discurso denunciando a conspiração de Catilina contra o senado romano e Catilina escutava absolutamente desolado no seu canto sozinho. O processo levou Catilina ser condenado à morte junto com todos os outros conspiradores.

Cícero não parou de falar desse momento até o fim da vida. Vários pontos do seu discurso contra Catilina são estudados e repetidos copiosamente até hoje por políticos. O que me fez escrever esse artigo foi justamente a atenção que me chamou essa mesma frase que Cícero usou no processo ser usada na TV duas vezes nessa semana.

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência”

"Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?"

“Até quando, ó trabalhadores, deixar-vos-ei serem explorados pelos tiranos de terno e jatos?” - Lula em algum momento antes de ser eleito.

“Até quando, ó Raça Humana, deixareis que suas matas e florestas sejam devastadas?” - Pessoa que está preocupada em proteger a floresta da Amazônia.

“Até quando, ó Cristãos, deixareis que abusem da vossa paciência?”

“Até quando, ó pais de família, deixareis que ensinem ideologia de gênero a vossos filhos?”

“Até quando, camaradas, suportareis o jugo malvado do capitalismo?” – Lenin.

É uma frase para incitar revolução!

Essa mesma frase é utilizada com os mesmos exatos propósitos de Cícero. Quando um comunista a diz está buscando antagonizar sua classe à do outro, à inimiga. Cícero precisava daquilo, e ele sabia que Roma também, de uma certa maneira.

Segundo o historiador Caio Suetônio, desde que Cartago foi apagada da existência em 146 a.C. não restara nenhuma oposição mais à altura de Roma. É aí que, segundo ele, teria começado a queda do império. Roma sem o desejo de vingança e a força do ódio que nutria contra Cartago e Aníbal, perdia sua fibra moral e o senado se tornava corrupto. O curioso é que Caio Suetônio, a quem pertencem essas palavras, foi tido como dos governadores mais lascivos e corruptos do Egito. O que me lembra como autores igual Dostoiévski e Tolstói, que viviam afundados em pecados sexuais, foram os que melhores trataram sobre esses pecados e a castidade. Ou então como, num livro que li de Immaculé Ilibagiza, a experiência de 6 meses trancada num armário só odiando os assassinos de sua família e seus ex-amigos e até seu namorada que a havia traído (não com outra mulher, mas tentando entregá-la aos rebeldes assassinos), ela no fim de tudo foi capaz de dar o maior perdão que eu já conheci, que foi perdoar ir até a cadeia e perdoar os assassinos de sua mãe, seu pai e seus dois irmãos, enfim, ela perdoou as pessoas que lhe tomaram tudo que ela tinha nesse mundo. O mesmo eu observo no caso de pastores evangélicos que são ex-criminosos e parecem para mim os mais sinceros nas suas pregações. Justamente porque foram o que mais experienciaram o pecado a fundo, e saíram do fundo do poço redimidos com coisa a ensinar, a velha história do herói que desce à caverna e retorna com o tesouro.

Enfim, acho que Caio Suetônio acertou nisso. De fato, o senado se tornou muito mais corrupto e Roma ficou exposta, quase pedindo para que algum ditador tomasse o poder todo para si, o que aconteceu. Isso tem a ver com outro assunto que ainda quero tratar, que é a importância de o homem não sair do seu estado natural, que é a guerra. O que digo é minha experiência e a disciplina que aplico na minha vida e que me sustenta todo dia. Não quero dizer que o homem tenha que se preparar para uma guerra física eventual. O estado de estar em constante antecipação da guerra anda bem perto da paz espiritual. Isso fará com que você viva cada dia como se fosse o último, como exorta o próprio apóstolo São Paulo.

O meu ponto com esse texto todo foi para dizer que quando o homem perde de vista a guerra, ele começa a buscar falsas glórias. Cícero viveu esse tempo de paz em Roma; nunca foi um general, e fora o único ano obrigatório de serviço militar que serviu sem ver ação, jamais estivera perto do campo de batalha novamente. A busca da glória era algo na sociedade romana como a busca pela felicidade é hoje na sociedade moderna. Quando essa glória deixa de existir para ele no campo de batalha, Cícero quer essa glória “salvando” Roma das mãos de Catilina. Ele pediu para diversos poetas que escrevessem uma epopéia épica de como ele havia livrado Roma das mãos do maléfico conspirador. No fim, como ninguém quis escrever, ele mesmo escreveu.

Para mim, todo ser humano tem um desejo grande por glória. É desse desejo que aplicativos como Tik Tok se aproveitam extensivamente para atrair as pessoas. É a perversão de um sentimento puro de querer deixar um legado e de ser reconhecido. A atenção instantânea, os aplausos intermináveis, os joinhas, os elogios... Já pararam para pensar por quê tantas pessoas fazem vídeo para esses aplicativos? Será que é só por diversão ou para compartilhar seus momentos?

Não quero ser chato. Apesar de eu não usar o Tik Tok, eu uso o instagram. E não vejo problema intrínseco em nenhum deles, tudo depende da intenção da pessoa que está usando e não sou eu para julgar isso. Só que eu acho o Tik Tok particularmente pernicioso ao obrigar vídeos a serem tão curtos. Como se eu não fosse capaz de prestar atenção em algo por mais de 6 segundos. Ou então o comediante ali não consegue me manter rindo por mais do que isso...

Cícero sempre quis ser relembrado como herói do senado Romano. Não foi lembrado assim, mas hoje é muito mais famoso do que jamais imaginaria. E o nosso Tik Toker dancinha – como ele quer ser lembrado?

A verdadeira cruz está no inferno!!!

Não faz muito tempo e como alguém que de quando em vez se interessa pelo misterioso e esquecido país da Romênia, eu fiquei sabendo de um documentário romeno que sairia sobre o experimento Pitesti. De qualquer experimento sádico de governo que eu já ouvi falar, esse eu acho um dos piores. O experimento Pitesti foi um tentativa sistemática de aprender como desumanizar uma pessoa. 

Os torturados diariamente eram oferecidos algumas escolhas. Todas envolviam tortura. Alguém podia se livrar da tortura por vários meses se simplesmente negasse a Cristo diante do agente soviético.  Podiam pedir que seu melhor amigo fosse torturado em seu lugar. Os agentes queriam aniquilar primeiramente a empatia, o que nos torna mais humanos.

O que na verdade me deixou uma impressão fortíssima nisso tudo foi como alguns monges católicos aceitavam ser torturados diariamente em vez de cuspirem em uma imagem de Jesus Cristo e serem liberados da tortura. A maioria renunciou a fé, mas outros permaneceram firmes e fortes até o fim, a maioria destes padecendo no meio das torturas. Vendo isso acontecer Nicolae Steinhardt, um intelectual judeu preso naquele mesmo lugar e também submetido a torturas, se impressionou tanto que ali dentro da prisão mesmo pediu que o batizassem na fé cristã e ele se tornou monge. Ele escreveu o diário do qual eu tiro essas informações, "O diário da Felicidade", em português.

Isso me fez escrever um comentário no fórum onde esse filme foi anunciado. Não tinha nenhum comentário do post, e até hoje acho que não tem, pois pelo jeito esse documentário não teve tanta repercussão. Eu comentei "um dia eu gostaria de ter a coragem desses homens para morrer por algo maior que eu mesmo", ao que no dia seguinte recebi a resposta do próprio usuário que fez o post: "Para morrer, primeiro é preciso saber viver".



 








pitesti3

Ilustrações do experimento Pitesti




Existe uma lenda, a lenda da Vera Cruz, na região de Caravaca, na Espanha. A lenda diz que essa seria a verdadeira cruz em que Jesus Cristo teria sido crucificado e que ela possuía realmente restos mortais do corpo de Jesus Cristo, os quais foram enviados à Roma. Essa cruz é parecida com a cruz dos patriarcas, que têm dois braços, um abaixo, na altura do joelho de Cristo.

Essa cruz foi utilizada como símbolo das missões jesuícas no Brasil. Nas ruínas de São Miguel das Missões, no sul do país, se encontra uma dessas datada do século 17, inteiriça e em pé firme e forte do lado de fora das ruínas do que um dia fora a igreja de São Miguel.



São Miguel das Missões: as ruínas da maior missão jesuítica




Os jesuítas eram uma ordem de muitos jovens e com muito entusiasmo, entusiasmados demais, cheios de paixão, desejando ardentemente "morrer por Cristo". O número de mártires jesuítas nas américas chega à números de guerra. Foram ceifados no Canadá, pés de calços e muitas doenças na América do Sul, assassinados e canibalizados por tribos mais selvagens e outros que se aventuravam para o interior da Amazônia e nunca mais voltavam. Eu juro que me arrepio falando disso, porque nunca vi atos de bravura iguais, atos dignos de santos. Tem a história de um, se não me engano o nome dele era Mateus alguma coisa. Era um jovem cultíssimo, falava 7 idiomas, especialista em história da arte, era compositor, músico, artista, teólogo e também sabia navegar. Esse jovem trabalhou em algum lugar na região do sudeste brasileiro, possivelmente perto de onde foi fundada São Vicente. Esse jovem não passou um ano em território nacional e morreu de uma gripe braba que lhe congelou os pulmões. Anos de oração, estudo e muito esforço roubados pelo frio das águas de algum rio que ele botou seu pé para pegar a tal gripe. 

Tiveram outros que morreram de exaustão, tentando trazer os índios mais do interior para mais próximos do litoral, nas reduções jesuíticas (ou reducciones em espanhol, como são mais conhecidas). Há relatos de tribos de canibais se vestindo de túnicas sacerdotais, de tanto de padres que já haviam devorado, agora usavam suas roupas. Mesmo avisados pelos bons índios, os padres, abdicados da própria vida, iam pregar nessas tribos de canibais. E acabavam sendo comidos.

O desprezo pela própria vida é algo observado no budismo do oriente como o tibetano (os monges que botam fogo em si mesmos como forma de protesto) e no código bushido, dos japoneses. Guiados por esse código, em que a honra deve ser preservada acima de tudo, pilotos japoneses não hesitavam em tirar a própria vida se lançando em ataques suicida de avião ou com explosivos no corpo, conhecidos como "kamikaze".

Eu falei de tudo isso para comentar sobre o significado que essa cruz, a Vera Cruz, a cruz verdadeira de Cristo, tem para mim.

                                         History Sao Miguel das Missoes RS Brazil – Foto de Ruínas de São Miguel das  Missões, São Miguel das Missões - Tripadvisor

O braço de baixo, que é maior que o de cima e está mais perto do chão que o de cima, passa uma mensagem muito simples, a mesma mensagem que eu recebi do Romeno: Cristo sabia morrer, e sabia muito mais viver. A verdade é que viver é mais difícil que morrer. Qualquer imbecil consegue morrer, até sem querer. E isso que me leva ao título do artigo, o jogo Doom.

Um mundo pós-apocalíptico, onde seu mundo foi dominado por uma invasão de demônios bíblicos que mataram todos seres humanos do seu mundo. O mais fácil seria pegar a escopeta que te deram e estourar a sua cabeça. Mas o conceito do Doom é o mesmo dos Jesuítas, é a de respeitar a vontade divina na vida humana acima de tudo. Isso foi revolucionário no Cristianismo. Entre os romanos, caso nada mais lhe restasse para viver, era normal o suicídio. Os cristãos dizem que não. Até a mais ínfima manifestação de vida deve ser preservada. Essa manifestação de vida no Doom é você com sua escopeta na excitação do massacre que parece inacabável dos demônios, acompanhado do silêncio mórbido do Doom Guy, que jamais diz uma palavra, e só se preocupa em cumprir o seu dever, a razão de estar ali, mesmo que não haja no momento nenhuma explicação lógica para o que ele está fazendo.

“Então você andará eternamente pelos reinos sombrios, enfrentando o mal que ninguém foi capaz de enfrentar. Que sua sede de vingança nunca seja saciada, que o sangue de sua espada nunca seque, e que você nunca mais seja necessário novamente.” – Registro de Corrax 7:17


Cover art | Doom Wiki | Fandom





O melhor episódio dos Simpsons e a minha maior frustração.

 O melhor episódio da série animado dos "Simpsons" pra mim e para muitos americanos é o vigésimo terceiro da oitava temporada, "O inimigo de Homer". Esse episódio dá espaço para discussões intermináveis, até sobre a essência mesma da série animada. É um episódio que faz você simpatizar com o vilão e se questionar: "Por quê eu gosto de Homer Simpson?". Para resumir os pontos-chave do episódio, basicamente Frank Grimes é esse homem de um passado muito sofrido, pobre, que fez a faculdade por correspondência e tudo quanto conquistou foi com esforço próprio (eles literalmente dizem isso dele na TV). Frank Grimes é contratado pela Usina Nuclear de Springfield e ele é o exemplo de funcionário perfeito e leal.

Grimes começa trabalhando no setor administrativo e logo se assusta com a quantidade de erros que é obrigado a consertar nas finanças por conta da incompetência dos funcionários, particularmente a de Homer Simpson. Grimes não reclama - ele acabou de chegar na empresa, - e no começo até tenta aprender algumas coisas com Homer, que o ensina coisas como desligar a câmera de segurança para poder tirar uma soneca, ou onde colocar seu café no painel onde ele não vá derramar e como passar mais tempo no banheiro do que no trabalho.

Grimes continua trabalhando duro, consertando os erros de Homer para manter o bom desempenho da empresa. Homer é promovido pelo trabalho duro que Grimes exerceu em seu lugar e quando Grimes é demitido por um erro de Homer, o ressentimento do novo empregado chega ao ápice e ele enlouquece com a frustração acumulada.

Grimes vai até a casa de Homer com o objetivo de lhe dirigir uns insultos antes de se mudar da cidade e ir buscar outro emprego. Chegando lá sua raiva e frustração são mais ampliadas ainda: Frank Grimes que tudo que fez na vida foi se esforçar para ser sua melhor versão não tem nada e ninguém, enquanto Homer Simpson, que ganhou o prêmio de não fazer esforço algum, tem uma bela casa e uma linda família. Frank Grimes não tem nada, Homer Simpson tem tudo.

Aqui é um dos pontos do episódio que fascina particularmente os americanos. É a desilusão contemporânea com o Sonho Americano.

A maioria das pessoas, e na escola e faculdade foi o que eu sempre ouvi, pensa no sonho americano como uma família, uma casa, um carro, um bom emprego, ás vezes riqueza, sucesso, etc. Nada disso é o verdadeiro sonho americano.

O sonho americano não é material, mas se materializa. Na minha visão, o sonho americano é algo universal. É um desejo de justiça e meritocracia que todo humano tem dentro de si. Se você trabalha duro, receber a recompensa desse trabalho. A lógica é que se você trabalhar, e mesmo que seja difícil e penoso e muitas vezes não dê certo, e continue insistindo naquilo, você vai receber a recompensa. Dinheiro, reconhecimento e a bênção divina.

O sonho americano se assemelha também ao Minecraft. Onde o que você constrói é seu e quase tudo depende unicamente dos seus esforços e da sua vontade de realizar. E os Estados Unidos com suas terras livres e virgens era o lugar para sonhar assim.

A frustração de Frank Grimes é a frustração de muitos. O Brasil é o caso de um país particularmente oposto ao sonho americano. Onde os esforçados e gênios são muitas vezes literalmente desprezados e os vis e torpes são exaltados como exemplos a serem seguidos. Quase nunca isso é feito publicamente, mas o que rege o ambiente da elite intelectual no país são as emoções mais baixas, como inveja e resssentimento. Rebaixar o outro para se sentir bem virou um mecanismo de defesa comum entre qualquer camada da sociedade. Isso não digo da boca para fora, e já está documentado faz tempo, entre vários autores da literatura nacional. Tem uma parte de algum livro do Machado de Assis que as pessoas estão conversando sobre um padre e uma senhora diz, defendendo o padre dos seus companheiros de sacerdócio que eram seus algozes: "Mas o Padre João estuda tanto!"; ao que eles responderam que era porque Padre João era metido. Isso também é bem expresso no Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto quando veem estantes e mais estantes de livro chegando na casa do coronel. Quando a esposa lhe pergunta "Você vai ler todos eles?", ele responde "É só para eu parecer culto". Esse mesmo coronel adorava, usando termos rebuscados, humilhar seus companheiros militares com sua erudição.

As coisas que decorrem desse tipo de mentalidade são fonte de frustrações para mim. Uma frustração tamanha que eu jamais aguentaria fazer uma faculdade que envolvesse disciplinas de humanas que eu conhecesse minimamente. Aqui não só é permitido, mas é aconselhado que você seja ignorante no conteúdo que está cursando, e que estude somente aquilo ali que o sistema te der. O estudante se aventura para ler um Umberto Eco, pensando que vai sair da matrix da faculdade, e mal sabe que o sistema já previu esse seu movimento e deixou "A rosa e o vento" dando mole justamente ali para ele pensar que aprendeu algo sobre idade média e filosofia.

O sonho americano é quando um homem estuda ciência naval a vida inteira, estratégia, navios e guerra, e um dia tem seu conhecimento reconhecido e recebe a oportunidade de trabalhar na marinha. É o mais lógico, afinal nós buscamos eficiência. No Brasil não buscam isso e estudar de verdade é perda de tempo. Quantos talentos existem por aqui e a nação nos últimos 30 anos não tenha tido quase nenhum talento nas artes, na pintura, na literatura, no cinema? O Brasil que na década de 30 exportava música e literatura para fora mais do que hoje exporta soja. Eu não sou ainda merecedor de qualquer fama ou reconhecimento por qualquer trabalho. Tenho muito pouco a oferecer ainda. Mas o meu sonho é esse, que eu possa ter algum lugar na sociedade para contribuir com tudo pelo que eu venho me esforçando diariamente.

Porém, eu gostaria de terminar de falar sobre o episódio dos Simpsons e terminar esse artigo em esperança, não em pessimismo para o futuro. Eu amo qualquer mitologia moderna, e os Simpsons faz parte dessa nova mitologia. Nessa mitologia é bem comum que o herói seja um tanto estúpido, ou melhor - criança. Não é infantil, mas criança. Porque o reino de Deus é dos pequeninos. 

Forrest Gump, Bob Esponja e Homer Simpson tem isso em comum e são os arquétipos de heróis modernos. A sua ignorância abençoada os protege da realidade que enlouqueceu e encheu de ressentimento a Frank Grimes. Pode ser uma ignorância selecionada, também. E isso é evangélico, como quando Jesus diz para não nos preocuparmos com o amanhã, nem com nada, mas deixar tudo nas mãos de Deus. Nisso Homer Simpson é mestre. O evangelho sempre trabalha muito essa mentalidade: se não há nada mais que você possa fazer, aprenda a aceitar as coisas como são. Aprenda a gostar delas, como Homer fazendo corrida de carrinhos no trabalho. Porque a verdade é que não é nossa profissão e nem as nossas ações que definem quem nós somos, mas sim a pessoa que sinceramente conhecemos quando estamos sozinhos. Deus não quer engenheiros automobilísticos da ferrari, e sim santos com um caráter de ferro. A ferrari pode ser rápida, mas não vai te acompanhar para o paraíso.